segunda-feira, 16 de março de 2009

Conheça um pouco mais sobre Clarice Lispector

Clarice Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, pequena cidade da Ucrânia, e chegou ao Brasil aos dois meses de idade, naturalizando-se brasileira posteriormente. Foi criada em Maceió e Recife. Aos doze anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito, trabalhou como jornalista e iniciou sua carreira literária. Viveu muitos anos no exterior, em função do casamento com um diplomata brasileiro, teve dois filhos e morreu em dezembro de 1977, no Rio de Janeiro.
Apesar de sempre ter evitado dar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, acabava por deixar escapar nos seus escritos e contos, de tempos em tempos, confissões que, revelavam um autoretrato acurado, ainda que parcial. Isso aconteceu principalmente nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973.
Certa vez em uma entrevista concedida a Affonso Romano de Sant'Anna e Marina Colasanti, para o Museu da Imagem e do Som, em 20 de outubro de 1976, ela afirmou que enjoava dos seus escritos depois que eram publicados, que sentia como se fosse um livro morto e não queria mais saber deles. "E quando leio, acho ruim. Aí não leio, oras!"
O texto de Clarice costuma apresentar ilusória facilidade. O vocabulário é simples e as situações descritas são sempre sobre o dia-a-dia, as pessoas, os animais, os objetos domésticos, mas cada frase descrita porá o leitor em contato com um mundo em que o insólito acontece e invade o cotidiano mais costumeiro. Ela consegue evidenciar as nuances e conflitos próprios que tem cada criatura, por mais banal que seja. Se é, que pode-se afirmar que qualquer ser humano é banal.
O conto Amor foi escolhido por Ítalo Moriconi para integrar um livro com os cem melhores contos brasileiros do século, que é também o título do livro. Nesse livro há contos de Machado de Assis, Monteiro Lobato, entre outros. Este conto fala sobre a história de Ana, uma mulher casada e mãe, de classe média e do lar, que ao se deparar com um homem cego na rua, se sente comovida com a situação dele e fica inquieta, até que à noite se deita em sua cama confortável, ao lado esposo, e assim toda as tormentas sentidas durante o dia ao descobrir a existência dos menos afortunados passa e ela descansa tranquila. O livro Laços de Família, da editora Rocco, de Clarice, também traz este conto, além de muitos outros.
No livro A Hora da Estrela Clarice cria Rodrigo S.M., que é o narrador da história, e é através deste autor imaginário que Clarice se desnuda e deixa entrever sua forma de enxergar o mundo e as pessoas. Rodrigo S.M. conta a história de Macabéia, uma pobre infeliz, órfã e que foi criada por uma tia que nunca lhe deu carinho. Uma pobre moça insegura e carente, tanto de cultura, quanto de afeto e também de dinheiro.

Abaixo Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.

Viver plenamente
"Eu disse a uma amiga:
- A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
- Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim."

A síntese perfeita
"Sou tão misteriosa que não me entendo."

Um vislumbre do fim
"Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto - serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de `dois e dois são quatro´ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto..."

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