terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Um conto - O plano infalível...


Nina e Joana moravam em Campo Limpo Paulista e eram amigas há bastante tempo e faziam parte de um grupinho de garotas que gostavam de frequentar bailes country. Às vezes, outros amigos iam juntos nos bailes, mas Nina, Joana e Ana sempre estavam juntas em todas ocasiões. Nina e Ana eram loiras, enquanto Joana era morena, todas bonitas.
O fato é que Nina começou a paquerar um moço que se chamava Francisco. Ele foi apelidado por ela e pelas amigas de Cowboy, pois sempre ia aos bailes a caráter (de chapéu, roupas e adereços condizentes ao ambiente country). Nina conseguiu ser apresentada a ele por intermédio de um amigo e os dois começaram a se envolver. No entanto, o relacionamento não vingou. O moço só queria dar uns beijinhos e não queria compromisso sério, então Nina resolveu se afastar. A moça ficou um pouco triste, mas o lema das garotas era sempre: “tirou a bota, acabou o amor!” (Uma analogia entre o amor e o mundo country, para evitar sofrimentos desnecessários. Mas que nem sempre dava certo...).
Assim, nada de ficar em casa curtindo fossa, Nina combinou com algumas amigas de ir no fim de semana seguinte ao rompimento, em um barzinho country chamado Bar do Carlão, situado em Cajamar. Como Joana, não estava muito bem, resolveu não ir.
Os dias passaram e chegou o dia do passeio. Nina foi com a Ana e outras amigas. Lá, ela conheceu um rapaz e se divertiu muito. No decorrer da noite ela descobriu que ele se chamava Pietro e que era amigo do Cowboy, seu ex, apesar dela nunca ter notado a presença dele antes. Ele trabalhava na mesma empresa que seu pai, o seu João, na Thyssen Krupp, (uma grande empresa multinacional localizada no município de Campo Limpo Paulista que tem, em média, uns 1.800 funcionários). O rapaz contou-lhe ainda que morava na cidade de Várzea, no mesmo bairro do seu ex. Mas apesar de ter gostado da noite e do rapaz não pegou nenhum contato dele e, também, se recusou a passar o seu.
Na segunda-feira, Nina, empolgada, contava todos os acontecimentos do domingo: como a noite foi divertida, que conheceu um moço bacana e como ela tinha gostado dele. A semana ia transcorrendo sem grandes novidades, mas Nina não esquecia o jovem do baile e não parava de falar nele. Joana perguntou-lhe por que ela não deu o número de telefone ao Pietro já que gostou dele. A menina respondeu que não deu o número, pois sabia que ele não ia ligar, esses ‘baladeiros’ geralmente não retornava no dia seguinte.
De tanto que Nina se referia ao moço, Joana comentou que achava que ele até ligaria. Foi o que bastou para a menina ficar suspirando arrependida de não ter dado seu telefone ao rapaz. Então, Joana resolveu pensar em alguma forma de ajudar a amiga. E é aí que realmente começa a nossa inusitada historinha...
Achar o parcialmente desconhecido, Pietro, já que sabíamos dele somente quatro pequenas informações, era como achar uma agulha no palheiro, como diz o ditado popular. Elas até pensaram em falar com o pai de Nina para que ele localizasse o pretendente da filha, mas não seria mais fácil para ele. Apesar dele ser funcionário da empresa há 20 anos, eram 1.800 funcionários e as informações que tínhamos do moçoilo eram muito limitadas.
Joana então teve uma ideia fora dos padrões, que a princípio pareceu absurda, mas que aos poucos Nina começou a gostar... Ela costumava dizer que Joana e ela pareciam o Cascão e a Cebolinha com seus planos infalíveis... E vamos ao plano:
Joana sugeriu que fosse feita uma ligação ao cowboy, ex da amiga e ele mesmo passaria o telefone de Pietro (amigo dele) para elas... Nina riu da possibilidade, mas à medida que o tempo foi passando a ideia foi amadurecendo na cabeça de Joana. Quem entraria em contato com o Cowboy seria ela mesma, a Joana, pois, do contrário, o rapaz poderia reconhecer a voz de Nina, já que eles já tiveram um breve envolvimento. E essa ligação seria feita na cidade em que ambas trabalhavam (Jundiaí) e de um telefone público, para que ficasse mais difícil uma possível associação do número à imagem da ex. Então decidiram ligar do Bolão (Centro Esportivo de Jundiaí), que ficava próximo do local onde elas trabalhavam e na hora do almoço das duas.
Assim, por volta das 12h, seguiram para o local e Joana ligou de um telefone público, usando um pseudônimo e dizendo que trabalhava em uma famosa loja de calçados da região:
- Oi, bom dia, Sr. Pietro. Eu sou Carla, trabalho aqui na Passarelas e preciso fazer uma atualização de cadastro.
- Oi, Carla, deve haver algum engano, meu nome é Francisco e não Pietro. - Disse Cowboy.
- Então, Sr. Francisco... Esse número de telefone consta na ficha do Sr. Pietro. É uma ficha muito antiga e a maior parte das informações se apagaram. Aqui só consta o primeiro nome, esse número de telefone, o bairro e cidade onde ele mora e o local onde trabalha que é a Krupp. O sr. não tem nenhum amigo com esse nome que possa ter dado seu número como sendo de recado?
- Ah, eu tenho um amigo com este nome, mas ele tem telefone. Por que daria o meu número como recado?
- Na verdade, não sei... Como eu disse é uma ficha bem antiga... Você não poderia me passar o número de telefone dele? Aí eu ligo e falo com ele mesmo...
- Não... É melhor você me passar o seu telefone e eu passo o recado para ele! - Quando Francisco terminou de falar, Joana ficou meio sem saber o que dizer, pois não poderia passar o telefone dela, por razões óbvias. Então, rapidamente veio uma ideia.
- Não adianta eu te passar o meu número, pois só trabalho até às 13h e só eu posso fazer esta atualização.
- Então, está bem... - E depois de pensar um pouquinho, ele acabou passando o telefone residencial do amigo.
Mesmo tendo o contato do almejado pretendente nas mãos Nina titubeou, pois não teria coragem de ligar para o rapaz. E talvez não fosse a melhor solução, pois se ela ligasse diretamente para o moço, ele perceberia que ela enganou o ex para pegar o número de telefone dele. Nina achou que não ficaria bem. Assim, Joana voltou a entrar em ação e ligou para o telefone residencial de Pietro. E por sorte, a mãe do rapaz atendeu:
- Olá, querida, eu sou Maria, a mãe dele. Ele acabou de sair para a academia...
- Então, dona Maria, meu nome é Carla, trabalho nas lojas Passarelas e estou fazendo a atualização do cadastro do seu filho. Será que a senhora pode me ajudar? Consta no cadastro que ele trabalha na Krupp, ele ainda trabalha lá?
- Sim, ele trabalha.
- Na verdade, isto é até uma coincidência, pois meu irmão também trabalha lá. - Joana não tinha irmãos, essa era uma pequena mentirinha para que dona Maria passasse as informações. E deu certo. A simpática senhora passou.
- Ah, é?
- É sim. Quem sabe, eles não se conhecem, né? Em qual seção seu filho trabalha? – E assim, Joana conseguiu o que queria. Estando de posse dos dados corretos sobre a seção que o moço trabalhava na Krupp, horário, entre outros pormenores, Nina falou com o pai dela para que ele entrasse em contato com Pietro, e que dissesse a ele que o achou baseado no pouco que Nina sabia dele. O seu João, um senhor simpático e engraçado aceitou a incumbência dada pelas duas criativas e atrapalhadas meninas e ligou para o moço:
- Viu, você é o Pietro que conheceu minha filha no Bar do Chicão?
- Olha, eu não sei do que você está falando? - A princípio o rapaz foi atender meio com o pé atrás, afinal os homens da empresa costumavam brincar com os colegas de trabalho, pregando peças uns nos outros, mas depois ele foi percebendo que o assunto não era piada e foi relaxando:
- Não é você que vai ao Bar do Chicão e conheceu uma loira lá, a Nina, no domingo passado?
- Vou ao Bar do Carlão e não do Chicão! E conheci uma moça sim.
- Então... É isso aí. Minha filha disse que conheceu você nesse barzinho aí. Ela me pediu para eu passar o telefone dela para você... - E assim o Seu João, passou os telefones de contato da filha: passou o telefone residencial, celular, o da amiga Joana, o dele mesmo, todos os telefones em que Pietro poderia encontrar a moça.
Pietro não se fez de rogado e ligou para Nina no mesmo dia. O encontro foi marcado para a noite. Era uma quinta-feira. Eles começaram a sair e tudo estava muito bem. Até que no domingo seguinte, no fim da tarde Pietro liga para Nina e diz:
- Viu, Nina, aconteceu algo muito curioso...
- O que?
- Hoje eu fui em um encontro de motos e o Francisco estava lá. Aí ele veio com uma história estranha, dizendo que uma menina meio burra da loja Passarelas ligou para ele para atualizar um cadastro e, a tal moça afirmou que eu tinha dado o telefone dele para recado. Francisco comentou que a menina não sabia nada de mim e ele acabou passando o meu telefone para ela. Só que eu nunca dei o telefone dele como recado para ninguém. Então, quando cheguei em casa, minha mãe disse que ligou uma moça da Passarelas, com a mesma história que contou para o Francisco. Minha mãe, que ainda achou a mocinha da 'passarelas' simpática, acabou passando todos os meus dados por telefone para essa desconhecida. Aí, o seu pai consegue me achar misteriosamente na Krupp e me liga. Como ele conseguiu, no meio de 1.800 funcionários? Estive pensando e me perguntei se você tem algo a ver com tudo isso? - Nina gelou. E, por coincidência, naquele momento Joana estava chegando na casa de Nina. Foi aí, que Nina achou uma saída, ela disse que sua amiga Joana tinha percebido que ela tinha ficado afim dele e resolveu ajudá-los a ficar juntos. E aí, com a melhor das intenções, ela combinou tudo com o seu pai e os dois armaram tudo. Pietro engoliu a desculpa e eles namoraram por dez meses.
E depois? Ah, o depois... Isso quem determinou foi o destino... Juiz implacável que sempre conduz as histórias. Bom, de repente o implacável desta frase pode ter significado boas surpresas.

Sempre quis contar esta historinha... É baseada em fatos reais... Os nomes são fictícios...

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