sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Um conto - A carona!

Julia trabalhava próximo de casa e naquele dia resolveu voltar a pé do serviço. E enquanto ia caminhando, ia também pensando na vida. Seu namoro com Godofredo havia terminado há, mais ou menos, um mês. Foi um relacionamento tumultuado. Ela sempre fora toda esquentada e ele, ao contrário, tinha aquele ar distante e inatingível. Ambos se consideravam grandes vítimas de tudo e não percebiam que cada qual tinha a sua insofismável parcela de culpa no término do romance. Ela não sabia muito bem o que estava sentindo, sabia apenas, que estava magoada. Então, percebeu que um carro parou ao seu lado. Quando ela olhou, notou que era Godofredo que também estava voltando do emprego e lhe oferecia uma carona. Ela pensou em não aceitar, mas porque não? Assim, entrou no veículo e começaram um diálogo:
- Olá! Nossa nunca achei que você me ofereceria uma carona! – Falou isso baseada no que já conhecia da personalidade dele. Ele sempre fora rancoroso.
- Por que?
- Ah, sei lá! E como você está?
- Ah... Mais ou menos! Estou doente...
- O que você tem?
- Ah... Estou gripado!
- Ah! Gripe é doença de rico! - Quando Julia pronunciou estas palavras o rapaz fechou ainda mais o semblante. Ele estava usando óculos escuros, tinha um ar meio cansado e demonstrava certa magoa. Olhava para frente impassível. Julia, olhando para ele, se sentiu integrante do filme do Arnold Schwarzenegger, ao lado do exterminador do futuro... Ou então ao lado de um Iceberg (quem sabe, não foi o mesmo que afundou o Titanic? Ela pensou!)... Ou até poderia ser o astro daquele filme chamado Duro de Matar... No entanto, não era... Era apenas o seu Godo, que aliás, não era mais seu! Alguém que, um dia, já a tinha visto de pijama, descabelada, feliz, e até triste em alguns momentos. Mas, voltando ao diálogo: Ele demonstrou ter ficado magoadissimo com o comentário dela. Na verdade, ela não quis diminuir a moléstia dele, só tentou ser bem humorada. Aí tentou consertar: - Ah... É esse tempo, né! Você está tomando remédio?
- Ah, eu tomei. Agora já estou melhor!
- Ah, que bom, né! Não precisa me levar até em casa, não. Pode me deixar na esquina. - Ela falou isso para não parecer abusada, mas aí ele perguntou:
- Por que não? - Acho que ele pensou que ela não queria que ele fosse até a porta de sua casa.
- Ah... Não precisa! - Ela não entendeu que ele se sentiu dispensado. E ele não queria demonstrar fraqueza, imagine dar o braço a torcer e de repente propor uma conversa, jamais! O dono da razão era ele. Ela, por outro lado, tinha a certeza que ele nunca a amara, e lhe tinha oferecido carona por educação, simplesmente. E já que é assim, para que tentar uma aproximação? Entrar em um acordo estava fora de questão! E, assim, cada um perdido em seu próprio mundo de orgulho e razões inúteis, chegaram, finalmente, ao destino. Ele parou o carro, ela deu um beijinho de despedida no rosto dele e desceu.
- Thau, obrigada!
- Thau, de nada. - Respondeu, olhando para frente, de rosto erguido e partiu.

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