quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quem poderá nos defender?

Dia desses, ao assistir o noticiário acompanhei uma reportagem sobre o assassinato de um preso, dentro do presídio que fica em Presidente Venceslau, interior de São Paulo. Nessa prisão de segurança máxima estão encarcerados os mais perigosos assassinos, traficantes e sequestradores do nosso estado. O local abriga criminosos como Wanderson de Paula Lima, o Andinho, sequestrador condenado a mais de 400 anos, os chefes de quadrilhas que agem dentro e fora dos presídios paulistas como Marcos Camacho, o Marcola, cuja pena passa dos 40 anos, e outros de iguais periculosidade.
Os agentes penitenciários afirmam que lá é um local muito perigoso. Ele exemplifica que se um preso estiver limpando o pátio, a vassoura usada por ele, pode ser quebrada e utilizada como um estilete para machucar algum adversário. Em um vídeo que foi gravado no dia 14 de abril do ano passado, pelas câmeras de segurança da prisão, o Ivonaldo Xavier Adelino, o Boi, dá a ordem para Marcos José da Silva, o Xandão, condenado por furto, para pegar uma corda feita de lençóis que estava pendurada na trave do gol (do local onde eles tomam o banho de sol) e ir matar Luiz Fernando dos Santos, o C4. De repente ouve-se gritos e o C4 é brutalmente assassinado pelos colegas. Segundo um agente, os prisioneiros têm a sua própria lei e quem não a cumpre paga com a própria vida.
“A reunião de lideranças num mesmo presídio acabou concentrando e fortalecendo esse grupo. Quando estavam separados e pulverizados em vários presídios, havia mais chances de se controlar essas lideranças”, afirma Fernando Salla, pesquisador do núcleo de estudos da violência da Universidade de São Paulo (USP).
Além do problema de ter juntado esses lideres, há um outro infinitamente maior: O despreparo da nossa força policial para lidar com os marginais. No caso de um presídio de segurança máxima, tudo deveria ser pensado e calculado. O banho de sol precisaria ter suas regras repensadas e ser amplamente vigiado, os detentos não poderiam ficar sem fazer nada o tempo inteiro, afinal alguém que fica ocioso todo o tempo, tem muito mais horas para confabular planos e criar confusões.
O Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária de São Paulo (Sindasp) faz um alerta: Um dos problemas da cadeia pode estar na falta de treinamento adequado para os funcionários.
“Não é simplesmente você pegar o funcionário, colocar lá e falar para ele: 'Vigia aqui, vigia ali, algema aquele para sair'. Falta material humano e faltam equipamentos”, aponta João Rinaldo Machado, presidente do Sindasp (Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária de São Paulo).
As prisões deveriam ser um lugar para regenerar o bandido e não para deixá-lo pior, mas infelizmente é fácil perceber que as unidades prisionais do Brasil acabou se tornando uma universidade para graduar meliantes. O indivíduo entra lá como ladrão de galinhas e sai como assassino de primeiro grau.
Já diz o dito popular: “O trabalho dignifica o homem”. Os presos deveriam ter que trabalhar nas penitenciárias e, assim, aprender um ofício. Além de tirarem o próprio sustento, sem depender totalmente do estado, eles estariam se preparando para que quando ficassem livres tivessem mais chances de mudar de vida. Atualmente, é muito difícil um ex-preso conseguir um emprego e recomeçar a sua vida licitamente, pois as pessoas sentem medo e preconceito, o que faz com que a maioria neguem ajuda. Se houvesse algum projeto que ensinasse aos presos uma profissão para prepará-los para serem reintegrados na sociedade quando livres, talvez isso ajudasse a todos a confiar mais na mensagem implícita que um ex-presidiário exibe, que é: “A minha dívida com a sociedade já foi paga e mereço uma chance de recomeçar”.
Certa vez, li uma entrevista concedida pelo Marcola, em que ele dizia: “De dentro da prisão, posso matar vocês, no entanto, daí de fora, vocês não conseguem me atingir”. E é muito triste constatar que esse líder de tráfico está correto. Ele mesmo conseguiu comandar um grande ataque em regiões de São Paulo, através da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), causando grande terror entre a população. Esses dias, assistindo a um outro programa jornalístico, acompanhei uma outra matéria que dizia que o preso Davi Curti conseguiu organizar, de dentro da prisão, um baile funk, para financiar negócios escusos com o dinheiro arrecadado. Além da ajuda de outros bandidos, ele teve a da própria família. E esse detalhe evidencia um traço da realidade: Se a própria família está auxiliando o bandido, ou seja, os civis estão tomando o partido do lado que representa o “mau”, o lado criminoso, então isso quer dizer que a mensagem que está sendo passada nas entrelinhas pela sociedade é que é mais lucrativo apoiar o crime. E se isso está ocorrendo, tem algo de errado, algo precisa mudar. O saldo positivo dessa história é que os familiares envolvidos na organização do baile também foram presos. Essa foi uma resolução correta do juiz, mas inovadora, já que a maioria não age dessa forma.
Esses temas polêmicos é que nos fazem lembrar da palavra cidadania. Segurança é um item importante. E, em muitos casos, se existissem mais oportunidade de fazer cursos profissionalizantes (voltando a comentar sobre isso, pois se é importante dentro das prisões, fora é ainda mais importante, afinal dar estrutura e base para um cidadão construir um bom futuro, é construir uma nação melhor), e condições que proporcionem qualidade de vida e dignidade as pessoas, muitas não entrariam no mundo do crime.
É possível observar, através do livro “O Abusado” de Caco Barcelos, que conta a história de Marcio VP, famoso traficante do Rio de Janeiro, que as crianças que crescem nos morros, não tem respaldo. Crescem jogadas a própria sorte e suas mães, que também vivem em situação de miséria, por não ter futuro melhor para oferecer aos seus filhos, muitas vezes vão, elas pessoalmente, dizer aos traficantes que seus filhos estão a disposição deles para trabalhar no tráfico. É um circulo vicioso. O crime organizado mostra estar mais organizado que a força da dita justiça.Isso tudo mostra que a nossa sociedade está em decadência e pede socorro. Governo: Faça a sua parte e cuidem da nação! Povo: Faça a sua parte e seja a nação! Vamos refletir e buscar soluções para fazer tudo melhorar!

Imagem: Divulgação

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